O ponto de partida para montar uma fazenda

O ponto de partida para montar uma fazenda

Conhecer o ponto de partida para montar uma fazenda se faz necessário pela competição da pecuária com outras áreas mais rentáveis, geralmente agricultura. Por muitos anos montar uma fazenda era quase que somente uma especulação imobiliária. A maior rentabilidade esperada era na valorização da terra. Isso tem sido mudado, tendo em vista que os produtores buscam se especializarem, caso contrário é quase impossível não ceder vendendo ou arrendando a propriedade.

Fazenda de Gado de Corte (Foto: Luís Paulo Braga)

O ponto de partida na decisão de montar uma fazenda é definir os objetivos, conhecer o mercado, avaliar quais recursos e quanto de capital será necessário, conhecimento técnico e capacidade administrativa.

Vamos ver cada um desses pontos.

Definir os Objetivos

Antes que saia procurando as propriedades rurais com placas de venda, é necessário refletir o real motivo de querer entrar no ramo agropecuário. É oportunidade? Influência de alguém? Ou desconhecer outros meios de investimento, considerando o gado como poupança?

Independente do motivo, deve se ter em mente que a pecuária como qualquer outro negócio deve dar lucro e gerar rentabilidade do capital investimento, sem considerar a valorização da terra.

Alinhado com seus objetivos, deve se determinar qual o nível de produção é desejado. Só assim saberá se é possível obter faturamento que atenda seus objetivos. Obviamente não é simples assim determinar o nível de produção. Pois a quantidade produzida dependente de inúmeros fatores. É aí que entra o conhecimento técnico necessário, veremos mais adiante.

Um dos fatores mais importantes no ponto de partida a ser observado para montar uma fazenda, por mais que seja deixado de fora por muitos no cálculo do custo é o custo de oportunidade. Consiste no custo gerado por você ter escolhido uma oportunidade em detrimento da outra.

Por exemplo, você tem um capital e está em dúvida se investe em pecuária ou aplica em algum produto financeiro. Se você decidir investir na pecuária, a rentabilidade desse ativo financeiro passa a ser seu custo de oportunidade. Obrigatoriamente a pecuária terá que render mais que esse ativo para justificar a escolha. É comum utiliza o rendimento da poupança ou tesouro selic, por ser investimentos de fácil acesso.

Conhecer o Mercado

A escolha da propriedade é o primeiro fator no ponto de partida que colocar a prova os objetivos determinados anteriormente para montar uma fazenda. De acordo com tamanho, localização e benfeitorias instaladas, o preço pode variar em 10x ou mais. Então, de acordo com o capital disponível, o projeto pode ficar limitado ou não.

É importante observar que se o projeto requer grande escala, seja importante procurar propriedades em regiões mais desvalorizadas, sem abrir mão da qualidade da propriedade rural, principalmente solo. Ou então, optar pela escolha de uma propriedade com o mínimo de benfeitoria necessárias.

Caso não seja possível adquirir uma propriedade de tamanho adequado, é interessante rever os objetivos e qual produto será produzido. Por exemplo, em 100 ha não será possível produzir bovinos de corte em grande escala, logo o rendimento financeiro será baixo. A mesma propriedade pode ser adequada para outras criações, tais como: bovino de leite, ovinos, caprinos, peixes e suínos.

Por isso, é importante também conhecer a demanda da região. Pois produzir para depois procurar demanda é a forma errada. Primeiro procura-se a demanda, e então produz para atender a demanda.

Meia carcaças de suínos (Foto: Suinocultura Industrial)

Por exemplo, um de nossos clientes possui um plantel de 20 matrizes de suínos. Nas perspectivas de médio prazo, o objetivo é crescer até chegar nas 50 matrizes porque já temos demanda mapeada. O monitoramento de mercado continua, pois a demanda pode sofre aumento. Recentemente identificamos mercado para suínos com peso de 95 kg, historicamente a região, demanda animais leves.

Organização da cadeia

Outro ponto importante é a organização da cadeia. Vamos considerar um produtor de leite. O produtor de leite só consegue escoar grandes volumes para a indústria, pois a comercialização na forma in natura não possui demanda suficiente. Para a industria coletar o leite, ela possui uma quantidade mínima pela distância percorrida. Portanto, se não houver uma organização dos produtores da região, o produtor terá que garantir essa quantidade sozinho, e ainda ficar vulnerável a indústria.

A organização da cadeia pode contribuir quando há cooperativas, que permite a redução de custos comprando os insumos em grande quantidade. Além disso, pode-se aumentar as margens agregando valor ao produto pelo beneficiamento, bem como incluir as margens de lucro de mais de um elo da cadeia produtivo.

Símbolo do Cooperativismo

Ter fornecedores por perto também contribui para redução de custo, mas não impede de produzir. O que se deve ter é uma organização para adquirir os produtos e insumos em grande quantidade e nas épocas de maior oferta, pois os preços são menores.

Recursos Necessários

Com o objetivo, produto e nível de produção definido, o próximo passo é dimensionar o projeto, que possibilitará identificar quais e a quantidade dos recursos necessários. É nesse ponto, que também é definida quais técnicas serão utilizadas.

O dimensionamento do projeto permite identificar quais instalações serão necessárias e seus tamanhos, a produção final estimada, a estimativa de consumo de insumos. Tudo isso permitirá uma ideia de todos os recursos a serem demandados no projeto.

Sabendo dos recursos, é possível começar a busca pelos fornecedores, e verificar a necessidade de substituir alguma técnica. Ou ainda, caracterizar bem que tipo de insumo será necessário para atender o objetivo.

O dimensionamento do projeto é uma etapa importante, evita investimentos desnecessários ou direcionamento correto do capital investido. Às vezes, o produtor implementa instalações superiores ao que necessita, exigindo investir em aumento de escala para diluir o investimento.

Capital Necessário

De posse das características da propriedade que se adeque ao projeto, os recursos – instalações, equipamentos, maquinários, rebanho e insumos – e suas particularidades, é possível estimar qual o capital necessário para implementar o projeto.

Ordenha mecanizada balde ao pé. Primeiro nível de mecanização da ordenha.

Com o montante conhecido, é possível identificar se precisará de capital de terceiros. Precisando de capital de terceiros, será necessário buscar fontes de créditos, que geralmente no agronegócio possuem baixas taxas de juros. Tão baixas, que muitos produtores recorrem a essas fontes com outros objetivos não relacionados ao agronegócio.

É interessante verificar as condições em mais de um banco e buscar ajuda profissional para aprovar o projeto com mais facilidade. De qualquer forma, precisará de uma garantia. Se puder investir com capital próprio pelo menos na compra da propriedade, já poderia usá-la como garantia para financiamento da operacionalização do projeto.

Conhecimento Técnico

Assim como uma receita de bolo, não basta ter os ingredientes, é necessário saber o modo de preparo. E no caso do agronegócio, não saber como fazer pode trazer prejuízos consideráveis.

Por isso, mesmo para aqueles que tenha conhecimento prévio, é importante buscar informações úteis para seus negócios, bem como se atualizar das novas técnicas. Principalmente do que tem funcionando ou não.

Zootecnista Jefferson Bandeira atendendo a Granja TopSui. No fundo, as matrizes em pré-gestação e gestação.

Seguindo essa linha, é de suma importância conhecer outras realidades. Visitar outros sistemas de produção. O apoio de um técnico pode ser importante, nesse ponto. Além de trazer uma visão diferente para o sistema de produção, e auxiliar no destravamento da produção em seus principais gargalos.

Capacidade Administrativa

Até aqui, abordando de forma geral, principalmente para aquele que pensa em investir no agronegócio. Mas também servindo para aquele que já investe e busca melhoria, já falamos bastante coisa.

Agora imagine colocando tudo isso em prática. Quanta coisa para se fazer e administrar. Tantas possibilidades de ganhar ou deixar de ganhar dinheiro disponível no jogo. Por isso, é importantíssimo administrar corretamente a produção.

O segredo está nos mínimos detalhes. Mas não em fazer tudo que se é sugerindo, até as pequenas coisas. Mas sim fazer o básico bem feito. Aquilo que se propõe a fazer, deve ser feito da forma mais correta e ajustada a sua realidade que for possível.

Portanto, não basta colocar dinheiro no negócio. A propriedade rural deve ser administrada com o mesmo empenho que o negócio que geral capital suficiente para que você possa cogitar em investir em agropecuária.

Considerações Finais

O agronegócio sem dúvidas nenhuma é um ótimo negócio. O Brasil pela abundância de recursos naturais será em breve o celeiro do mundo, se já não é. O que traz muitas oportunidades.

No entanto, não se resume apenas a uma propriedade rural. Mas sim uma cadeia que parte desde o produtor de insumos até o consumidor final que receber o alimento em sua mesa. São inúmeras possibilidades.

A decisão por investir na pecuária não é simplória e pode envolver milhões de reais. Por isso, deve ser analisada em todos os pontos possíveis e se levar o tempo necessário para concluir. Afinal, lembra do Custo de Oportunidade? O investimento deve render pelo menos mais do que a poupança, senão não se justifica.

Jefferson Bandeira

Jefferson Bandeira Zootecnista, Mestre em Produção Animal – Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Professor do curso de Medicina Veterinária – Faculdade Vale do Aço – FAVALE. Consultor em Produção Animal

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