Por mais difícil que seja manter a margem de lucro positiva o ano inteiro na pecuária, com toda a variação de mercado e sazonalidade de produção, é possível com o monitoramento correto dos custos e escalonamento da produção.
Para melhor entendimento, iremos abordar alguns pontos a seguir.
Margem de Lucro
A margem de lucro (ML) consiste no valor relativo (%) do Resultado em relação a Receita (ML% = (Resultado / Receita) x 100). Entende-se por Receita todo o faturamento ou entrada de dinheiro na propriedade em um determinado período. E por Resultado o saldo restante do faturamento após a subtração do custo total. Também chamado de lucro, no entanto quando é positivo considera-se lucro, quando é negativa considera-se prejuízo, por isso o mais correto em chamar Resultado.

Em outras palavras, seria responder a seguinte pergunta: quantos por cento do faturamento da fazenda é lucro?
Como é possível observar na fórmula da Margem de Lucro, a receita e o custo são determinantes. A Receita é influenciada pelo preço de venda e pelo volume de produção (escala de produção). O preço já discutimos em outro artigo que o produtor não possui muita influência, por isso é chamado de tomador de preço. Já o volume de produção dilui os custos fixos chegando no menor custo médio possível por unidade produzida, que por sua vez influencia também o outro lado da equação (Resultado).
O fator de maior influência no Resultado é o custo de produção. Quanto maior o custo de produção, menor tenderá ser os Lucros. Salvo se possuir uma escala de produção eficiente, utilizando os insumos na proporção ideal sem excessos.
Frequência de Comercialização
Os preços na pecuária, como qualquer outra atividade, variam conforme a oferta e a demanda. De forma que, quando há excedente no mercado o preço cai, quando há escassez do produto no mercado o preço sobe. Por isso, muitos produtores esperam o momento da seca para comercializar boa parte do seu gado, pois os preços estão melhores.

Em casos de atividades não sazonais, onde a produção pode ocorrer durante o ano inteiro, a espera pelo melhor momento para uma ou duas vendas por ano pode não ser vantajoso pelos motivos a seguir.
Quanto menor a frequência de vendas, maior a necessidade de capital de giro. O que requer do produtor uma maior imobilização de caixa, que as vezes pode ser escasso. Além de aumentar o custo de oportunidade pela maior quantidade de dinheiro alocado.
A espera pelo melhor preço possível não garante a venda no pico do preço, pois as atualizações são frequentes com muitas variáveis disponíveis. Acertar o pico do preço requer muita especulação, o que dificulta o acerto.
Em mercados com menor estoque de produção, a necessidade de abastecimento é maior. O que ocorre em cadeias produtivas de menor organização, como por exemplo a caprinovinocultura. A frequência na entrega (venda) do produto potencializa as chances de em fidelizar a clientela, garantindo maior solidez em sua participação do mercado.
O escalonamento da produção garante melhor aproveitamento da estrutura instalada na propriedade, com menor risco de ociosidade. Isso devido o sistema possuir todas as categorias de produção, ocupando maior parte das instalações. Contudo, é importante frisar que mesmo sem uso, a instalação continua depreciando e gerando custo.
Produção Sem Grandes Variações
A constância na produção ao longo do ano propicia a margem de lucro positiva nele inteiro. Vale ressaltar que, deve-se ter o cuidado com o nível de investimento empregado na manutenção da produção na seca seja condizente com a receita gerada. Caso contrário, os custos podem se elevar e a margem se tornar negativa.

O princípio para a manutenção da produção ou minimização na seca parte do pressuposto que o preço maior pode não compensar a queda no volume produzido. No caso da pecuária de corte, para ser possível a venda nesse período de preço maior é necessário o mesmo investimento para o ganho de peso, para então vender o boi gordo na seca.
O problema é que esse investimento só vem na fase de terminação dos animais. Se ele é feito em todas as secas, pode reduzir a idade ao abate dos animais de 4 a 5 anos para 2 a 3 anos, o que aumenta a taxa de desfrute do rebanho. Em outras palavras, a capacidade que o sistema tem de entregar animais pronto para a venda. Essa redução da idade dos animais por si só, garante maior rotatividade de animais na mesma área aumentando a produtividade e a receita.
O mesmo princípio serve para os outros segmentos da pecuária, principalmente o leite. Na produção de leite deve se ter um cuidado ainda maior para usar alimentos concentrados em quantidades ideias e que se tenha genética suficiente para tanto. Caso contrário, os animais engordam o que será necessário perder mais à frente para ter uma boa eficiência reprodutiva. Portanto, dinheiro investido sem necessidade.
Um Comparativo
Para finaliza essa questão, usando o exemplo de um pequeno produtor de leite no Maranhão que produz na águas 150 kg de leite por dia e 80 kg na seca, e com os preços correspondentes de R$ 0,90 e R$ 1,10. A Receita nas águas seria de R$ 135,00 por dia e na seca de R$ 88,00. Portanto, na maioria dos casos, apenas o aumento do preço não garante margem de lucro positiva o ano inteiro.
Conhecer o comportamento do custo
Já vimos que são pelo menos quatro elementos que afeta a margem de lucro ao longo do ano: preço, volume produzido, custo e escalonamento da produção. Por isso, o foco não deve estar somente no monitoramento e estudo nas variações dos preços, mas também de como os custos de comportam ao longo do ano.

Dessa forma, é possível identificar os melhores momentos de compras de insumos e comprar em grandes quantidades. Seja sozinho ou em conjunto com outros produtores da região. Essa atenção especial deve ser pelo menos nos insumos utilizados na alimentação dos animais, haja vista que dependendo do sistema pode chegar a 70% do custo de produção.
O menor custo dos insumos permite uma intensificação da produção em níveis que ainda garante boa margem de lucro mesmo nos períodos que os custos aumentem, como é o caso do período da seca. É possível usar mais milho na alimentação do gado, por exemplo, no período da seca quando o custo é R$ 0,60/kg do que a R$ 0,90. Esse fator reflete positivamente no lucro da fazenda.
Considerações Finais
Com organização e foco nos pontos certos, é possível obter margem de lucro positiva no ano inteiro, em condições normais do clima que permita a produção. O fator determinante não é única e exclusivamente o preço, mas tudo aquilo que compõe o lucro.
Outro ponto que cabe reforçar, é que o nível de investimento realizado nos momentos de difícil produção deve estar balizado pelo equilíbrio entre receita e custo. Somente de forma consciente e pensando em um ganho superior no curto prazo é recomendável trabalhar com o custo superior a receita. Fato comum em negócios na fase de implementação ou expansão.
Referência Bibliográfica
REIS, R. A., RUGGIERE, A. C., CASAGRANDE, D. R., PASCOA, A. G. Suplementação da dieta de bovinos de corte como estratégia do manejo das pastagens. R. Bras. Zootec., v.38, p.147-159, 2009 (supl. especial)