Análise de Ração na Suinocultura

Análise de Ração na Suinocultura

Matriz suína se alimentando
Matriz suína se alimentando (Foto: cerrado editora/divulgação)

O uso de composição tabeladas sem análise da ração é comum na suinocultura. Como resultado, essa atitude pode resultar em três cenários. No melhor deles é o atendimento das exigências dos animais sem excessos, não gerando custo adicional.

O problema está nos dois outros cenários. No segundo, o excesso de nutrientes pode causar prejuízo de duas formas. Primeiramente, pelo o maior custo da ração e consequentemente maior ganho de peso dos animas, o que é indesejado em algumas categorias, como a reprodução. Em seguida, pelo desperdício da ração que pode ser provocado pela redução do consumo e aumento das sobras no cocho.

O terceiro cenário, e o pior de todos, é o não atendimento das exigências nutricionais dos animais e, consequentemente, menor desempenho e perca de peso em matrizes e reprodutores.

Em um passo a passo, vamos fazer a análise de uma ração que um de nossos clientes de suinocultura utilizava antes do nosso acompanhamento.

1º Passo – Determinação da Exigência Nutricional da Categoria Animal

A categoria animal a ser avaliada são marrãs de peso médio de 140 kg de Peso Vivo com gestação entre 0 a 85 dias, incluindo aquelas da pré-gestação. As exigências nutricionais das marrãs estimando 13 leitões em desenvolvimento, corrigida para temperaturas médias superiores a 26ºC, é apresentado na tabela abaixo (ROSTANGO, 2017).

NutrienteExigência Nutricional por kg de ração
Proteína Bruta122,5 g12,25%
Energia Metabolizável3150 kcal/kg 
Tabela 1. Exigência Nutricional Marrãs de 150 kg de PV de 0 a 85 dias de Gestação

Portanto, a categoria animal em questão necessita de uma ração de 12,25% de Proteína Bruta (PB) e Energia Metabolizável (EM) de 3.150 kcal/kg de ração, consumindo em média 2 kg de ração por dia. Além disso, caso seja observado um consumo menor devido ao desconforto térmico, deve-se ajustar a PB para 13,58%.

2º Passo – Verificar o Total de Nutrientes Fornecidos pela Ração

A ração utilizada é composta por 56% de milho, 25% de farelo trigo, 15% de farelo de soja e 4% de núcleo. Vamos analisar cada alimento separadamente.

Contribuição do Milho

milho grão para rações
Milho em Grão utilizado na fabricação de ração

O milho grão possui, em média, 7,86% de PB e 3.360 kcal/kg de EM para suínos (ROSTANGO, 2017). Em 1 kg de ração, são utilizados 560 g de milho (56%). Portanto, para identificar a contribuição do milho com PB na ração, primeiro identificamos quantas gramas de PB existe em 1 kg de milho. Para isto, basta multiplicar 1000 g por (7,86/100), que resulta em 78,6 g de PB/kg de milho.

Em seguida, identificamos quantas gramas de PB existem em 560 g de milho. Para isto, basta uma regra de três simples.

1000 g de milho —– 78,6 g de PB
560 g de milho —– x g de PB

Resolvendo a equação temos 44,02 g de PB.

Da mesma forma, fazemos uma regra de três semelhante para a energia, que fica assim:

1000 g de milho —– 3.360 kcal de EM
560 g de milho —– x kcal de EM

Resolvendo a equação temos 1.881,6 kcal de EM.

Contribuição do Farelo de Trigo

Farelo de trigo utilizado em rações
Farelo de Trigo utilizado para fabricar rações (Foto: mfrural/divulgação)

O farelo de trigo possui, em média, 15,10% de PB e 2.370 kcal/kg de EM para suínos (ROSTANGO, 2017). Igualmente ao princípio utilizado para o milho, serão utilizados 250 g de Farelo de Trigo por Kg de ração. Portanto, temos as seguintes equações:

Proteína Bruta
1000 g de F. Trigo —– 151 g de PB
250 g de F. Trigo —– x g de PB x = 37,75 g de PB

Energia Metabolizável
1000 g de F. Trigo —– 2.370 kcal de EM
250 g de F. Trigo —– x kcal de EM x = 592,5 Kcal de EM

Contribuição do Farelo de Soja

Farelo de Soja utilizado em rações
Farelo de Soja utilizado para fabricar rações (Foto: sodrugestvo/divulgação)

O farelo de soja possui, em média, 45% de PB e 3.179 kcal/kg de EM para suínos (ROSTANGO, 2017). Seguindo o mesmo princípio utilizado até então, serão utilizados 150 g de Farelo de Soja por Kg de ração. Portanto, temos as seguintes equações:

Proteína Bruta
1000 g de F. Soja —– 450 g de PB
150 g de F. Soja —– x g de PB x = 67,5 g de PB

Energia Metabolizável
1000 g de F. Soja —– 3.179 kcal de EM
150 g de F. Soja —– x kcal de EM x = 476,8 Kcal de EM

Resultado da Ração

O resultado da análise da ração do nosso cliente de suinocultura, somando todos os valores encontra-se abaixo:

Proteína Bruta
44,0 g do Milho + 37,75 g do F. Trigo + 67,5 g do F. Soja = 149,3 g de PB no total.

Energia Metabolizável
1.881,6 kcal do Milho + 592,5 Kcal do F. Trigo + 476,8 Kcal do F. Soja = 2950,9 Kcal de EM no total.

Os 4% reservados ao núcleo não entram na conta pois não contribui com PB e EM, apenas com vitaminas, minerais e aditivos.

3º Passo – Comparar os Valores da Ração com as Exigências dos Animais

A exigência de PB para a categoria é de 12,25%, o que resulta em 122,5 gramas por kg de ração. A composição da ração fornece 149,3 gramas de ração, um excedente de 26,8 g por kg de ração. Ou seja, correspondente a uma ração de 14,9% de PB. Como resultado, obtemos uma ração mais cara e com potencial de provocar sobrepeso nos animais.

A exigência de EM para a categoria é de 3.150 kcal/kg de ração. A composição da ração fornece 2.950,9 kcal de EM, um déficit 199,1 kcal/kg de ração. A consequência deste resultado é uma ração que terá um consumo maior, como resultado da tentativa de o animal compensar o déficit.

Na impossibilidade de consumir mais, tentará usar o excedente de PB para usar como energia. Para isso, ele gasta energia, e gastará também para excretar o excesso de PB em descompasso com a energia. Esse processo aumenta ainda mais o déficit de energia.

Considerações Finais

O uso sem cautela de rações tabeladas pode não trazer o resultado produtivo esperando, além de aumentar os custos de produção. O risco é presente mesmo quando é uma recomendação do fabricante de um produto comercial, por exemplo, a ração avaliada.

Essa análise é um processo trabalhoso, mas compensatório. No entanto, pode ser substituído pelo cálculo da ração usando os ingredientes disponíveis e as exigências dos animais. O princípio é o mesmo e o mais correto.

Na ração há diferença do que foi calculado, para o que foi misturado, para o que foi fornecido e para o que foi consumido. Então, é necessário que o balanceamento esteja correto. Não sendo aceitável diferença maior que 5% para mais ou para menos.

Ajustamos a ração para a seguinte composição: 67,3% de Milho, 20% de F. de Trigo, 8,7% de F. Soja e 4% de Núcleo. A PB ficou exatamente igual a exigência. A EM ainda ficou um pouco abaixo, mas entre os 5% aceitável. Com o núcleo usado não foi possível atender as exigências de minerais.

Na impossibilidade de calcular a composição ideal da ração para seu caso, recomendamos essa análise da ração não só na suinocultura, mas em qualquer produção animal, fazendo os ajustes necessários para balanceamento da ração. Sempre que possível, recomendamos a busca por orientação a um técnico de confiança.

Em caso de dúvidas deixa seu comentário ou entre em contato conosco.

Referência Bibliográfica

ROSTANGO, H. S. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 4ª Edição. Viçosa: UFV, 2017.

Jefferson Bandeira

Jefferson Bandeira Zootecnista, Mestre em Produção Animal – Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Professor do curso de Medicina Veterinária – Faculdade Vale do Aço – FAVALE. Consultor em Produção Animal

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