Intensificação do Sistema de Produção
Atualmente, a pecuária brasileira busca por um sistema de produção com maior produtividade através da intensificação da produção. Como resultado, nos últimos anos a produtividade por área vem aumentando gradativamente. A taxa de lotação passou de 0,6 UA/ha (Unidades por Animal – 450 kg – por hectare) para 0,9 UA/ha nos últimos 20 anos (Abiec, 2019).

Com isso, tornou-se popular o termo intensivo e muito tem se falando sobre a busca pela pecuária intensiva, com maiores produtividades e, consequentemente, maior rentabilidade. No entanto, o que caracteriza uma pecuária Intensiva?
Primeiramente, é oportuno esclarecer alguns pontos antes de uma discussão mais profunda sobre o tema. Vamos começar pelos os Sistemas de Produção.
Sistemas de Produção
A produção animal de forma eficiente requer conhecimento do processo produtivo, de conceitos de sistemas de produção, administração e gestão empresarial. Esses conhecimentos devem está alinhados ao entendimento das respostas morfofisiológicas das plantas e animais envolvidos (Silva et al., 2005).
O nível de produção definido geralmente em extensivo, semi-intensivo e intensivo considera o grau de uso de tecnologia no modo de criação da propriedade. Como tecnologia, devemos entender como um conjunto de conhecimento e técnicas utilizadas na produção. Não somente o uso de robôs e máquinas no campo.
Sistema extensivo
O sistema extensivo é caracterizado pelo extrativismo, onde, principalmente, utiliza os recursos dados pela natureza para a produção animal. Aqui uso o mesmo exemplo que sempre uso em sala de aula, meu pai. Na época que meu pai ainda trabalhava com gado, se produzia uma cabeça de gado por 4,84 ha (1 alqueire), totalmente extrativista.

O uso de pastagens exóticas, a exemplo do mombaça e braquiária, não descaracteriza o sistema extensivo, uma vez que não é reposto os nutrientes retirados do solo pela planta. Como resultado, é constante a necessidade de recuperação e reforma de pastagens.
Outras características do sistema extensivo são:
- Utilização maciça dos recursos naturais;
- Genética de baixa qualidade ou não definida;
- Baixos índices produtivos;
- Planejamento alimentar, sanitário, reprodutivo inexistente ou ineficiente;
- Controle de índices zootécnicos inexistente ou ineficiente;
- Manejo inapropriado, principalmente pastagens;
- Suplementação alimentar substituída pela complementação, quando existe.
Portanto, observe que não apenas a existência de alguma tecnologia que caracteriza o sistema extensivo, mas sim a incorreta e baixa utilização delas.
Sistema semi-intensivo
Em contrapartida, quando no sistema de produção são incluídas algumas tecnologias, lembre-se em conhecimento colocado em prática, ocorre maior produtividade pela intensificação da produção. Então, temos o sistema semi-intensivo. Perceba, que o nome correto é sistema semi-intensivo e não semi-extensivo, pois precede o sistema intensivo, que está à frente.
Em uma analogia, o efeito do sistema semi-intensivo é o mesmo do fornecimento do sal branco ao boi. O sódio (Na) é o mineral de maior deficiência ao animal, por isso ele procura o sal (NaCl), entretanto, não é o suficiente para o animal conseguir imprimir todo o seu potencial genético em ganhos. Por isso, ao sal é adicionado outros minerais para potencializar o ganho. Então, esse ganho de produtividade abaixo do ganho máximo, é o ganho obtido no sistema sem-intensivo.

Outras características do sistema semi-intensivo são:
- Atividade vista de forma empresarial;
- Suplementação alimentar, ao invés de complementação;
- Conservação de pastagens;
- Confinamento apenas na terminação;
- Controle Zootécnico, profilático, sanitário e reprodutivo;
- Processo modernizados de criação, tais como biotecnologia, gerenciamento e maquinário.
- Contabilização da produtividade.
Veja que em nenhum momento foi falando ainda sobre maquinários de última geração, controlados remotamente, GPS, drones e robôs. Estamos tratando a tecnologia implantada no campo como o conhecimento colocado em prática. Essa é a proposta deste blog.
Só faz sentido o produtor investir em computadorização da produção, depois que é feita a base. Se não, a maior parte do que deveria ser lucro é consumido pelo alto custo fixo.
Sistema Intensivo
O sistema intensivo é tudo o que o sistema semi-intensivo é e mais além, buscando, em maior grau, aumento da produtividade possível com os recursos disponíveis, seja computadorizado ou não.
A pecuária passa a ser vista não apenas como uma fazenda, ou em pior dos casos como especulação imobiliária, mas sim como uma empresa rural. Objetivo principal passa a ser a lucratividade, e consequentemente, a rentabilidade da propriedade. Sendo assim, as tecnologias apenas o meio.

Outras características do sistema intensivo são:
- Geralmente próxima aos grandes centros, até para justificar o alto preço das terras;
- Planejamento dos recursos; o que usar, quanto e quando usar;
- Pastagem explorada intensivamente; alta taxa de lotação e reposição dos nutrientes no solo;
- Confinamento podendo ser usado após a desmama;
- Cultos mais elevados, porém alto retornos;
- Mão de obra especializada, em virtude de maior tecnologia empregada;
- Exploração máxima do potencial genético dos animais;
- Cruzamento industrial;
- Objetivos e metas bem definidos.
Fatores Determinantes na Intensificação do Sistema de Produção
As características de cada sistemas foram apresentadas, mas de fato o que define o sistema ou quem define o sistema? O seu sistema de produção se enquadra onde?
Um sistema pode ser definido com base no que ele se mais aproxima, se foi ou não planejado. Em outras palavras, o sistema de produção em função da maior produtividade versus o nível de intensificação. Portanto, os pontos que devem ser observados são:
Objetivo
O ponto de partida no planejamento de uma propriedade, seja no início da produção ou no andamento, é saber qual o objetivo. Qual nível de produção você quer chegar? Qual faturamento? Definido o objetivo até que ponto você quer chegar, o próximo passo é verificar quais os recursos disponíveis.
Recursos disponíveis
O inventário de tudo aquilo que você tem disponível é de extrema importância, pois só assim saberá quanto falta. Ou ainda, se precisa ajustar o objetivo ao nível de recursos disponíveis. Um fato comum, é o pequeno produtor investir em gado sem terra suficiente para obtenção de escala de produção, não obtendo lucratividade satisfatório. Então, quais seus recursos disponíveis? Área, água, capital, maquinário, instalações, são exemplos disso.
Tempo
Outro fator a se levar em consideração é o tempo que de deseja alcançar. Infelizmente, o capital disponível será o fator mais determinante neste ponto, é o catalisador. Uma obra pode levar 5 anos, como pode levar 1 ano. Vai depender dos seus recursos disponíveis, resultando em capacidade operacional. Na fazenda onde participei do planejamento, todo o processo desde o desmate até a colocação do gado levou 120 dias, mas com muito dinheiro envolvido.
Resultado
Por fim, é necessário coletar dados e monitorá-los para chegar ao se planejou. Não se deve apenas olhar o resultado final, mas sim o resultado em cada passo. Só assim, será garantido um resultado o mais próximo possível do planejado.
Portanto, não é um ou dois fatores que vai determinar o sistema de produção e nem sua escolha. Mas sim o conjunto de tecnologias utilizadas, capacidade gerencial e sustentabilidade do sistema que determinará o grau de intensificação.
Intensificação do Sistema de Produção
A importância da intensificação do sistema de produção fica claro quando se compara a rentabilidade do agronegócio com outros investimentos, como feito pela Scot Consultoria (Scot Consultoria, 2015). A pecuária de ciclo completo com baixo nível tecnológico apresentou rentabilidade de 2,3% a.a (ao ano), ou seja, a cada 100 reais investidos, retornava R$ 2,30.
Enquanto que, utilizando mais tecnologia (mais conhecimento posto em prática) a rentabilidade subiu para 8,6%, quase quatro vezes a mais. Essa crescente na rentabilidade dá-se pelo aumento da produtividade, que provoca aumento na receita aproveitando melhor os insumos, traduzida em menor custo marginal. Explicarei em breve em outro artigo o funcionamento dessa relação.
Outro exemplo, é o levantamento feito durante meu mestrado. visitamos mais de 60 produtores de leite no leste maranhense. Foi observado que a média da proporção de vacas em lactação por vacas totais era de 54%, enquanto que o ideal é 83%. Essa proporção está relacionada ao intervalo entre partos (IEP) e a duração da lactação (DL). Em rebanhos azebuados, é aceitável 75% devido a menor duração da lactação.
Dito isso, fica claro que o fator determinante é o IEP, e o ideal são 12 meses. Adequando o manejo, ou seja, intensificando, seriam 15 vacas a mais produzindo leite, o que representa um aumento de 44% da produção apenas com o ajuste de manejo. Sem considerar que os produtores não exploravam todo o potencial genético da raça. Se isso fosse feito, o incremento na produção seria de 130%.
Conclusão
Em outras palavras, o sistema de produção com maior produtividade devida a intensificação da pecuária aumenta a sustentabilidade financeira da atividade, sendo competitiva com outras atividades. Assim, reduzindo as chances de evasão, arrendamento para a agricultura ou troca de atividade.
Portanto, embora inicialmente requeira maiores investimentos e desembolsos. No médio e longo prazo é o que sustentará a atividade ativa e lucrativa por longos anos. Bem como a estabilidade financeira de seus proprietários.
Referências
ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne. Beef Report – Perfil da Pecuária no Brasil, 2019. Disponível aqui. Acessado em: 20/04/2020.
SILVA, S. C.; NASCIMENTO JÚNIOR, D.; MONTAGNER, D. B. Desafios da produção intensiva de bovinos de corte em pastagens. I Simpósio sobre Desafios e Novas Tecnologias na Bovinocultura de Corte, 2005.
Scot Consultoria. Rentabilidade do agronegócio em 2014 e a expectativas para 2015. Disponível aqui. Acessado em: 21/04/2020.
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